quinta-feira, 17 de abril de 2025

11 homens e um plano, Uiraúna fez história: A resistência ao Rei do Cangaço


 No fim da tarde de 15 de maio de 1927, a então vila de Belém do Arrojado — atual Uiraúna, no sertão da Paraíba — entrou para a história como uma das poucas localidades do Nordeste que resistiram a um ataque do bando de Virgulino Ferreira da Silva, o temido Lampião, conhecido como o “Rei do Cangaço”.

O ataque foi realizado por cerca de 35 cangaceiros, armados e experientes, que tinham como objetivo saquear e dominar a vila, localizada próxima à divisa com o Rio Grande do Norte. A região era vulnerável: com pouco mais de 130 casas, um comércio simples e sem presença de tropas militares ou policiamento oficial. A única figura de autoridade era o subdelegado civil Nelson Leite, um sertanejo determinado que organizou, às pressas, uma defesa popular.

Com apenas 11 homens, entre moradores e voluntários, armados com poucos fuzis e rifles, Leite montou uma estratégia de resistência usando o pouco que tinha à disposição. Os defensores foram distribuídos em pontos estratégicos, especialmente no alto da igreja da vila, o edifício mais alto do lugar, com visão ampla da área.

Enquanto mulheres, crianças e idosos fugiam para sítios próximos, enterrando seus bens de valor para protegê-los, os homens se posicionaram para enfrentar o grupo de Lampião.

Por volta das 17h, os cangaceiros chegaram, pondo fogo em propriedades e plantações. Mas foram surpreendidos por uma forte reação armada e pela astúcia dos defensores, que utilizaram “ronqueiras” — artefatos improvisados com pólvora e latas — para simular o som de canhões, criando confusão entre os invasores.

O tiroteio durou cerca de duas horas. Apesar da violência, houve apenas uma vítima fatal: Antônio Correia, atingido acidentalmente por um tiro disparado por um aliado da resistência ao ser confundido com um cangaceiro durante a confusão.

Percebendo que não conseguiria invadir a vila e com a munição se esgotando, Lampião ordenou a retirada. Antes das 19h, o bando já havia abandonado Belém do Arrojado.

No dia seguinte, a população celebrou a inesperada vitória. Um telegrama enviado às cidades da região confirmou o feito, destacando a bravura do povo sertanejo e a derrota simbólica do mais temido cangaceiro do Brasil. Lampião jamais retornou a Uiraúna.

O episódio entrou para a história como uma vitória da inteligência e da união popular sobre a força armada do cangaço. Sem recursos, sem ajuda externa e sem tempo para uma preparação elaborada, os moradores provaram que coragem e estratégia podem ser armas poderosas.