A Secretária de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente, Ana Toni, enfatizou em uma recente reunião da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados que um considerável número de municípios brasileiros, 66% do total, não está preparado para enfrentar as mudanças climáticas. Ela explicou que o governo está trabalhando em planos setoriais para mitigação e adaptação a esse desafio crescente.
Ana Toni informou que cerca de 4 milhões de pessoas no Brasil foram diretamente afetadas por eventos relacionados às mudanças climáticas entre 2013 e 2022, incluindo a redução das chuvas no centro e norte do país e inundações no sul e sudeste. Essas mudanças já estão tendo impactos significativos na agricultura, e a previsão é que até 2030, aproximadamente 10,6 milhões de hectares associados à agricultura sejam perdidos, forçando a realocação de muitas culturas.
Marcos Woortmann, coordenador de Política Socioambiental do Instituto Democracia e Sustentabilidade, ressaltou que as escolhas feitas pelas autoridades públicas, privilegiando a agricultura de exportação em detrimento da segurança alimentar, podem se tornar mais problemáticas com as mudanças climáticas. Ele destacou que em 2022, a soja recebeu R$ 56 bilhões em subsídios, enquanto a cesta básica obteve apenas metade desse valor. Woortmann também levantou a questão dos investimentos na Ferrogrão, uma ferrovia voltada para o escoamento de produtos de exportação, em detrimento de investir em interligações periurbanas que permitiriam aos agricultores familiares levar sua produção diretamente para pequenos centros, evitando intermediários.
Outra preocupação levantada foi a permissão para que propriedades rurais localizadas no Cerrado desmatem até 80% de seus espaços. Isso levanta questões sobre o equilíbrio entre a preservação ambiental e o desenvolvimento agrícola.
Patrícia Pinho, Diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, lembrou que o Acordo de Paris, de 2015, tinha como objetivo estabilizar o aquecimento global em 1,5 grau, no máximo 2 graus, até 2100. No entanto, quase 40% da população global já vive em regiões que, nos últimos dez anos, experimentaram a meta de aquecimento aceitável, mostrando a urgência de ações concretas.
Nesse cenário de urgência, o Brasil se encontra diante de uma encruzilhada crítica, onde as ações tomadas agora podem definir o futuro do país diante das mudanças climáticas, exigindo um esforço conjunto do governo, sociedade e setores produtivos para enfrentar esse desafio global.